sábado

Jardim

Mãe não peques mais, que o mundo dói quando há muita gente.
E porque desaparecem uns, fica a gente que fica desejando não estar.
Desejando não ser.
Pudera eu ser deus,
meu deus,
e escolher quem devia nascer.
e escolher quem se devia perder.
e escolher.
Escolheria talvez que não houvesse mais
o que há aqui neste agora.
E retornava a haver o que não há mais.
Dotaria o mundo de mais espaço vazio,
mas aquele vazio espaço que me chora nas entranhas,
voltaria a estar completo.
Com tudo no seu sítio de antes,
ainda que antes não implicasse tudo no sítio.
A desordenação e loucura que eram suas.
As orquídeas com as tulipas,
os lírios com as framboesas.
Pudera eu ser deus,
meu deus,
e escolher quem devia morrer.
e escolher quem não se devia perder.
e escolher-te a ti.

Ana Guimarães

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