quinta-feira

quarta-feira

Homem de Papel

O homem de papel é frágil e débil.
para não ficar embaraçado tenta chorar os que estão à volta.
Deitado recosta-se na sua melancolia
e morde o lábio se discordam do que dita o seu cigarro.
vive no mundo de sonho do seu sofá
imaginando-se o derradeiro lider
tiranizando a liberdade e a diferença.
reproduz-se desesperado produzindo no trabalho.
é o melhor naquilo em que se aplica
só é pouco prendado de aceitação e humildade.
nao se acha humano este homem!
assume silhueta de messias lutador e mal-tratado
agindo nas costas vis do sistema que o quer ver morto.

o homem de papel luta,
mas luta em vão
pois batalha inimigos que não existem.

o homem de papel é meu irmão e eu sou a sua imagem.

Irene Paços

sábado

Jardim

Mãe não peques mais, que o mundo dói quando há muita gente.
E porque desaparecem uns, fica a gente que fica desejando não estar.
Desejando não ser.
Pudera eu ser deus,
meu deus,
e escolher quem devia nascer.
e escolher quem se devia perder.
e escolher.
Escolheria talvez que não houvesse mais
o que há aqui neste agora.
E retornava a haver o que não há mais.
Dotaria o mundo de mais espaço vazio,
mas aquele vazio espaço que me chora nas entranhas,
voltaria a estar completo.
Com tudo no seu sítio de antes,
ainda que antes não implicasse tudo no sítio.
A desordenação e loucura que eram suas.
As orquídeas com as tulipas,
os lírios com as framboesas.
Pudera eu ser deus,
meu deus,
e escolher quem devia morrer.
e escolher quem não se devia perder.
e escolher-te a ti.

Ana Guimarães

"La femme au canapé"

Kees van Dongen

Tori Amos/Viktor & Rolf